Encontro no calendário o dia certo da tua morte. Sem contar os dias, sei
que são 730 os que sobrevivi sem ti. Dois anos por inteiro em que não
consegui esquecer um dia que fosse, mas que arranjei maneira de
sobreviver sem ti. Eu, que numa versão rasca de Emily Bronte, te
perguntava quanto tempo tencionavas viver depois da minha morte. Eu, a
ter o descaramento de sobreviver dois anos inteiros sem ti, para ficar
agora aqui, com esses dias vazios nas mãos e os ombros a
pesarem-me de tantas saudades. A dar por mim aqui sentada agarrada a uma fotografia daquilo que ainda hoje desejo voltar a ter. É cruel perceber como este calendário me devolve um a um, todos os dias de
agonia em que julguei poder salvar-te; é o único contador de dores que
tenho. E quero tanto poder atira-lo para a mesma pira em que ardeu aquela zona
do meu coração que ficou desabitada. Onde nada cresce e nada se pode
plantar. Onde só há vento e terra. Onde de quando em vez neva e eu juro
que vejo vultos. Mas eu que nem isqueiro tenho, contento-me em rasga-lo com toda a força e em amarfanhar os restos junto ao peito, exactamente como os dias fizeram com o meu coração.
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